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Fonte: Glossário de Termos Referentes à Gestão de Recursos Hídricos Fronteiriços e Transfronteiriços
Foto: Gruta do lago Azul (MS) – Zig Koch / Banco de Imagens ANA"
Água subterrânea é aquela que ocupa a zona saturada do subsolo.
Fonte: Glossário de Termos Referentes à Gestão de Recursos Hídricos Fronteiriços e Transfronteiriços
Foto: Gruta do lago Azul (MS) – Zig Koch / Banco de Imagens ANA
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LEIAM A REPORTAGEM SOBRE O PROFESSOR BIGARELLA, PARANAENSE E LENDA VIVA DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA E DO AMBIENTALISMO BRASILEIRO. NÃO PERCAM A OPORTUNIDADE DE CONHECÊ-LO.
João José Bigarella
O quiromante da Terra
Um dia se viu em Johannesburgo. Aproveitou para dar um pulo na Namíbia. De outra feita, instalou-se no Saara. O calor foi compensado com o frio do Ártico. Mas seus sonhos dormem em Vila Velha
28/08/2011 | 00:09 | José Carlos Fernandes, com colaboração de João Rodrigo Maroni
Ao se aproximar do geólogo João José Bigarella chame-o simplesmente de “professor”. É assim que gosta de ser tratado esse curitibano de 87 anos, dono das mais altas glórias da ciência, com folga o mais universal dos paranaenses. Mas é irremediável a tentação de chamá-lo de “viajante de todos os mundos”, um Von Humboldt tropical.
Slideshow mostra os bastidores da entrevista
VÍDEO: Bigarella fala do museu do Parque Estadual de Vila Velha
O temor é sempre o mesmo – que ao saber dos grandes feitos desse homem da cátedra algum desavisado o tome por um estudioso de vida reclusa, afundado em livros e desilusões acadêmicas. Não. Bigarella foi a quase todos os lugares onde um dia sonhamos ir ao ler a National Geographic, ao ver filmes sobre países exóticos e distantes, ao assistir aos documentários da Discovery Channel.
Foi e é, do mesmo modo, passageiro de mapas muitos próximos. Criou-se numa casa de grande quintal onde hoje passa a Travessa da Lapa. Moço, vasculhava o litoral do estado em inocentes expedições do Museu Paranaense. Adulto, lançou-se com fúria às belezas plácidas dos Campos Gerais e pelas finadas Sete Quedas de Guaíra.
Nem cá, nem lá esteve a passeio. Deve-se às pesquisas do professor Bigarella o tombamento da Serra do Mar. A preservação da paisagem de Vila Velha. O salvamento dos sambaquis. Também levam seu selo uma comprovação da Teoria de Wiggert – sobre a separação da África e da América do Sul. Seu “bigarelômetro” – equipamento que inventou para estudar o comportamento dos ventos – é uma anedota suave que ajuda a desinibir diante da lenda em que seu criador se tornou.
Confira trechos da entrevista concedida pelo professor em seus dois apartamentos na Boa Vista. Num, mora com a mulher, Íris. Noutro [foto], guarda slides e anotações trazidas de incontáveis andanças. O local é uma viagem ao centro da Terra.
Bigarella nasceu num 23 de setembro, início da primavera. Diz alguma coisa?
[risos] Coincidência. Penso que meu amor à natureza nasceu nos domingos em que meus pais me levavam para passear nos arredores de Curitiba, a bordo de um Fordeco Bigode [Ford T, produzido a partir de 1908].
Quem eram eles?
Otília, minha mãe, era dos Schaffer. Embora dominasse o português perfeitamente, ela só falava comigo em alemão. Dava grande valor à educação. Os Bigarella eram de Pianella e depois se mudaram para Bolzano Vicentino, perto de Vicenza. Eram servos. Não tinham propriedade. Meu avô veio para o Brasil e começou a trabalhar como motorista de ponto de burro.
Onde o menino Bigarella já anunciava o geólogo Bigarella?
Os Bigarella tinham uma chácara onde hoje está a Visconde de Guarapuava e a André de Barros, na direção da Travessa da Lapa. Fui criado ali. Cultivavam legumes, tinham pomar. Meu pai, José João, não conseguiu estudar, mas me colocou num colégio bom, o Marista. Ali fui estimulado nas ciências. Eu fazia as lições e depois tinha de ir ao quintal, capinar, cumprir minhas obrigações na casa. [chora]
Quem o influenciou?
Eu tinha dois amigos, o Ralph Hertel, que era primo da Íris [mulher de Bigarella], e o Rodolfo Lange. Eles trabalhavam no Museu Paranaense. Com mais ou menos 21 anos comecei a participar das excursões do museu junto com eles. Numa dessas viagens, estava lá uma moça – da turma de Geografia e História – com dificuldade em fazer o desenho de uma cerâmica e pediu a minha ajuda. Anda até hoje por aqui. Era a Íris. [risos]
O que o senhor sonhava para sua vida?
Cursei Ciências Químicas e me formei em 1943. Comecei a vida trabalhando no IBPT [Instituto de Biologia e Pesquisas Tecnológicas]. Fazia prospecção de matéria-prima para a indústria mineral. Posso dizer que fui eu quem localizou todo esse cimento produzido no Norte de Curitiba. Mas não era minha vocação. Em 1944, acabei nomeado para trabalhar no museu pelo interventor Manoel Ribas. Foi quando comecei a tomar contato com pesquisadores. Observar o trabalho dos outros foi a minha escola.
Seus pais não ficaram preocupados... Um filho cientista?
Não lembro o quanto ganhava no instituto – mil ou dois mil na moeda da época? O pai da Íris não queria que eu casasse com ela, pois não ganhava o suficiente. [risos]
Como foi seu relacionamento com Reinhard Maack [1892-1969, geólogo alemão radicado no Paraná na década de 20]?
Trabalhei com o doutor Maack no Museu Paranaense. Gostaria de ter escrito algo com ele, mas não nos estimulava à pesquisa. Prefiro lembrar que no museu encontrei o paleontólogo Frederico Waldemar Lange. Com Lange comecei a coleta de amostras de rochas. Queria entender como se formaram. Penso que vem daí o sentimento de reposição do meio ambiente.
O senhor acabou rompendo os limites do Museu Paranaense. Como se deu isso?
Um dia, o geólogo Riad Salamuni [1927-2002] apareceu lá, retornando de uma temporada de estudos nos Estados Unidos. Fiquei feliz. Foi ele quem informou que o professor Pettyjohn procurava alguém que estivesse trabalhando no campo. O americano já havia procurado o doutor Maack, que não o respondeu...
Quem arquitetava essas trocas de Curitiba com o mundo?
O José Loureiro Fernandes [1903-1977] e o padre Jesus Moure [1902-2010]. Naquele momento, a Universidade do Paraná atraiu a visita de pesquisadores internacionais e até congressos científicos. Um deles, no final da década de 60, incluía uma excursão de 15 dias em campo. Atraímos 49 estrangeiros de 19 países e 40 brasileiros. Levei o diretor do serviço geológico da África do Sul, num Jeep, a São Luiz do Purunã. Ele ficou impressionado. Na volta, me convidou para conhecer a África do Sul. Quando me dei conta, estava em Johannesburgo.
Fernandes, Moure, Salamuni, Bigarella, Oldemar Blasi e Igor Chmyz, para citar alguns. O que determinou o nascimento de uma geração tão brilhante de pesquisadores no Paraná?
Talvez a gente tenha prestado atenção em como se fazia ciência fora daqui. Trouxemos essa mentalidade para cá. Chegaram a dizer que eu devia ir para o serviço geológico americano. Felizmente não fui. Não sou pessoa de procurar minérios e ganhar dinheiro com isso.
Mas os Estados Unidos cruzaram seu caminho mesmo assim...
Entre 1951 e 1952, apareceu uma oportunidade de ir para John Simon Guggenheim Memorial Foundation. Percorri o país de Leste a Oeste. Foi difícil. Por sorte, o Keneth Caster, que trabalhou no Brasil com o Maack, indicou que eu fosse passar um tempo com o professor Edwin D. McKee. Era aquilo que eu precisava. Fui indicado para um estágio no Instituto de La Roya. Conheci o Francis Shepard, uma pessoa extraordinária.
Uma viagem chamava outra...
Sim. Em 1969, fiquei 45 dias na África do Sul. Acabei indo também à Namíbia, onde fiz medições no campo. Na ocasião, eu estava estudando a paleocirculação dos ventos há 120 milhões de anos. De lá, quis conhecer a Angola. Fui sem nenhum contato.
Comia o que lhe ofereciam...
Não tinha dificuldades. Não era às mil maravilhas, mas descia.
Falando em África, e o Deserto do Saara?
Na década de 1960, depois de ter publicado o primeiro trabalho sobre a deriva continental, movimentos de gelo, essas coisas, me senti mais entrosado no mundo científico. Isso me levou a ser chamado pelo Instituto Argelino de Petróleo para trabalhar no deserto do Saara. Foi espetacular. Acabou sendo um pequeno pulo para participar de projetos da Unesco.
Qual o lugar mais longe que o senhor foi...
O Ártico. Tentei tantas vezes ir à Amazônia e nunca consegui da maneira como eu queria. Foi mais fácil ir ao Saara. Queria ir à Antártida, também não consegui. Mas o Instituto Ártico Americano me levou no Ártico. Veja como são as coisas.
O senhor se considera um pioneiro do ambientalismo...
[risos] Aconteceu algo simples. Quando eu voltava do trabalho do campo, comentava com a Íris, minha mulher, os perigos ao meio ambiente. Naquele momento, foi ela quem mais se preocupou com o assunto. No início de 1970, criou o Movimento de Educação Ambiental, junto com alguns professores e com o Belmiro Castor. Não havia estatuto, era uma ação informal. Foi ela. Dessas conversas surgiu a Adea [Associação de Defesa e Educação Ambiental, uma das primeiras ONGs verdes brasileiras, criada pelos Bigarella].
O senhor sofreu alguma pressão durante o regime militar?
Fui respeitado. Quando estava estudando a Baía de Paranaguá, os militares queriam saber o que eu achava da abertura do Canal da Galheta. Sugeri um levantamento do tipo de sedimento que havia no fundo do mar. O resultado foi assustador. Na ocasião, havia a tendência das madeireiras se instalarem na Serra. Eu disse: “Derrubem a mata e podem tirar o Porto de Paranaguá dali”. Ia desabar tudo. O corte foi imediatamente proibido.
E o museu de geologia em Vila Velha? Lá se vão dez anos de espera...
Não quero entrar na política do Parque Estadual de Vila Velha. Propus um museu de geociências, um espaço virtual em que se possa assistir, em cenários, ao Big Bang, à formação do sistema solar, à origem da Terra há 4,5 bilhões de anos. O projeto é do professor Maurício Cândido da Silva. É dedicado a crianças e jovens, para que descubram a geologia.
Está em que estágio?
O prédio está construído, mas sofremos muitas perdas de recursos pela falta de vontade política: R$ 1 milhão da Petrobras, mais R$ 2,5 milhões de outro investidor. Quando este museu estiver pronto para a Copa, novos turistas vão ser atraídos a Vila Velha. São 3 mil e poucos metros quadrados. No primeiro módulo há uma cena da minha namorada. Eu a adoro, só que ela tem 11 mil e poucos anos. Chama-se Luzia. Eu a achei [os vestígios arqueológicos] quando estava orientando um mestrado na Serra da Estrela, na Bahia.
O museu é seu grande sonho?
É o canto do cisne na minha vida.
Quem é o geólogo João José Bigarella?
Quando eu olhava para o recorte de uma estrada, ele era mudo. Não dizia muita coisa. Mas eu fiz um curso de quiromancia. [risos] A quiromante lê a mão da pessoa e o geólogo lê a mão da Terra. Tem de entender o que a Terra quer dizer... Está tudo escrito no livro da Terra. Está tudo gravado lá. Hoje, quando olho uma rocha entro no túnel do tempo e vejo como era o momento de sua formação. Vem sem querer e me faz navegar. Isso se adquire gastando muita sola de sapato. Ser geólogo é 5% de inteligência e 95% de barriga da perna.
Professor Bigarella, como gosta de ser chamado, fala do projeto do Museu de Geologia, há dez anos em construção em Vila Velha, Ponta Grossa. O museu – pensado para ser interativo e voltado para o grande público – enfrenta os labirintos da burocracia. “É meu canto do cisne”, diz o pesquisador.
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MINI- CURSO: INTRODUÇÃO À ESPELEOLOGIA
1- BREVE HISTÓRIA DA ESPELEOLOGIA
A história da espeleologia é tão antiga como o próprio homem, já que em tempos pré-históricos as cavernas protegiam os nossos antepassados das intempérides e dos animais selvagens. Os achados mais antigos da presença do homem nas cavernas datam de 450 mil anos atrás e foram encontrados na Gruta Arago, na região Nesta gruta foi encontrado o esqueleto do mais antigo povoador europeu, batizado como Homem de Tautavel. Com a evolução, este primata dá origem ao Homem do Paleolítico Superior, muito mais avançado que o anterior. É neste periodo (350.000 A.C. - 10.000 A.C.) que surgem as primeiras pinturas rupestres, fruto do ócio e do instinto artístico, ilustrando principalmente cenas domésticas e de caça. Com o fim das eras glaciares, o homem abandona as grutas e instala-se nos campos. As cavernas passam a servir de armazéns, lugares de culto ou túmulos funerários.
Na idade média dá-se uma regressão de mentalidades, passando as cavidades a serem consideradas lugares do demônio e onde se escondem os leprosos e os doentes da peste. A Espeleologia passa por anos difíceis.
Aos poucos as cavernas começam novamente a ser alvo de visitas e explorações, sendo alvo de estudos científicos a partir da segunda metade do séc. XIX. Agora já não é a busca de proteção, mas sim a curiosidade, que faz o homem regressar às grutas. As primeiras expedições de carácter científico eram motivadas pela Paleontologia, ciência que busca os vestígios do homem e dos animais pré-históricos. Crê-se que tenham sido os ajudantes dessas expedições que mais tarde se agruparam e se tornaram os primeiros espeleólogos, aqueles que estudam as cavidades.
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PAI DA ESPELEOLOGIA
Édourd Alfred Marterl nasceu em Pontoise, 1 de Julho de 1859, numa família de juristas, estudou em Paris e desde cedo, torna-se apaixonado pelas disciplinas de Geografia e Ciências Naturais. Em 1877, conquista o primeiro prêmio de Geografia no concuros geral de sua escola e é um aficcionado das obras de Jules Verne.Em 1866, de férias com os seus pais, visita as Grutas de Gargas nos Pirineus. Outras viagens são realizadas para a Alemanha, Áustria e Itália. Em 1879, visita a gruta de Adelsber na Áustria, um vasto aglomerado de cavernas.Em 1886, após o serviço militar, torna-sea dvogado . Martel consagra as suas férias às viagens através da França. Durante esses deslocamentos, efetua trabalhos de cartografia
A ESPELEOLOGIA NO BRASIL
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O dinamarquês Peter Wilhelm Lund, nascido em Copenhagen, capital da Dinamarca em 14 de junho de 1801, era filho de ricos comerciantes. Diplomado pela Universidade de Copenhagem, guiado por seu ardente interesse pelas ciências naturais, veio ao Brasil pela primeira vez em 1825. Buscava não só dar continuidade a seus estudos botânicos e zoológicos, mas também à procura de um clima mais benéfico para sua saúde debilitada por doença pulmonar. Estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde realizou um exaustivo levantamento de toda a vegetação da baixada fluminense. Realizou também estudos sobre o comportamento das formigas e procedeu à montagem de várias coleções zoológicas. Em 1829, volta à Europa, estabelecendo contato com as mais importantes autoridades em História Natural como Humbold e Cuvier, entre outras.Em 1833 retorna, em caráter definitivo, ao Brasil. Ainda nesse ano, iniciou uma viagem para estudar a flora brasileira em companhia do botânico L. Riedel. No decorrer desta viagem, ao passar pela região de Curvelo, em Minas Gerais, encontrou um seu conteporâneo, o dinamarquês Peter Claussen, que explorava salitre nas cavernas calcáreas. Visitando então, as cavernas da região, Lund reconhece, pela primeira vez, as ossadas que se encontravam misturadas ao salitre. Diante destas descobertas, ele não hesitou e decidiu optar por uma nova área de pesquisas. Assim, após concluir os estudos "A Respeito da Vegetação dos Campos do Brasil", Lund fixou residência em Lagoa Santa, encontrando ali o lugar ideal para viver.As primeiras grutas visitadas por ele na região foram a Lapa Vermelha e a Lapa Nova de Maquiné, tendo escrito com minúcias, os espeleotemas encontrados.
"Todos estes deslumbrantes primores da natureza são realçados
pelos mais delicados ornatos tanto de formas fantásticas quanto de
bom gosto, franjas, grinaldas e uma infinidade de outros enfeites,
cuja enumeração seria fastidiosa e incapaz de dar idéia da beleza
do conjunto àqueles que não o viram com os próprios olhos".
(Lund)
Nestas grutas foram encontradas, pela primeira vez, ossadas fósseis, destacando-se: o Smilodon Populator (tigre-dente-de-sabre), o Tatu Gigante e o Nortrotherium Maguinense (preguiça gigante). Eram fósseis notáveis pelo tamanho e de marcantes diferenças com seus similares mais recentes. Lund pesquisou mais de uma centena de grutas, onde encontrou em torno de 120 espécies fósseis e 94 espécies pertencentes à fauna atual. A coleção de Lund é composta de espécies das seguintes ordens de mamíferos: Marsupiália, Chiroptera, Rodentia,Carnívora, Notungulata, Liptoterna, Artiodáctyla, Perissodactyla, Prosbocídea, Edentada e Primatas.Suas pesquisas duraram 10 anos e a coleção, possuindo 14 mil peças ósseas, foi enviada para a Dinamarca, sendo posteriormente estudada por Herluf Winge e Reinhard.Em 1844, Lund perde todo o seu vigor físico, abandonando as pesquisas de campo e passando a viver em completo isolamento, interrompendo, assim, todo o seu trabalho científico.
A espeleologia moderna no Brasil - século XX
1 - Surgimento da Moderna Espeleologia Brasileira
A primeira organização a iniciar um estudo sistemático e organizado das cavernas no Brasil foi a SEE, Sociedade Excursionista e Espeleológica, em 1937. Formada por alunos da Escola Federal de Minas e Metalurgia de Ouro Preto, a SEE foi a primeira instituição do gênero no Brasil e nas Américas, tendo precedido por alguns meses os cubanos.
Seus trabalhos se iniciaram nas regiões cársticas mais próximas de Ouro Preto: Matozinhos, Lagoa Santa, Cordisburgo e Pedro Leopoldo. O grupo também trabalhou em outras regiões do Brasil, como Bahia, Goiás, Ceará, norte de Minas e Vale do Ribeira, sul do Estado de São Paulo.
A força motriz por detrás da fundação da SEE foi o então aluno Victor Dequech. A SEE era um grupo extremamente avançado para sua época, se correspondendo com luminares da espeleologia francesa como Robert De Joly, utilizando técnicas inovadoras, como escadas de corda e realizando mapeamentos espeleológicos de ótimo nível. A SEE marcou época, atuando praticamente sozinha nesse campo por várias décadas. Em um de seus períodos mais ativos, nos anos 60 e 70, lançou a primeira revista espeleológica do país, denominada “Espeleologia”, e explorou e mapeou as maiores cavernas brasileiras da época, como a Lapa dos Brejões (6.400 m) na Bahia em 1967, que manteria o posto de maior caverna do Brasil por cerca de 12 anos.
2 - A Influência Francesa e o Surgimento da SBE.
Em 1959 chegou ao Brasil Michel Le Bret, engenheiro francês e espeleólogo apaixonado. Le Bret aderiu ao CAP - Clube Alpino Paulista, onde formou uma equipe de interessados pela espeleologia. Ficou sabendo que existia no sul do Estado de São Paulo uma vasta área de calcário, rica em cavernas e praticamente inexplorada, onde o naturalista Krone havia atuado meio século antes. Um pouco antes havia sido criado o PETAR, idealizado pelo engenheiro de minas José Epitácio Passos Guimarães. De posse dos relatórios de Krone, Le Bret iniciou as explorações, relocalizando e mapeando as cavernas. Entre as realizações mais marcantes estão o mapeamento da Gruta das Areias de Cima, Casa de Pedra e a travessia da Caverna do Diabo em fins de 1964, que já havia sido explorada em seu trecho inicial pelo grupo "Os Aranhas", um dos primeiros grupos de espeleologia brasileiros. Neste mesmo ano Le Bret organizou o primeiro Congresso Brasileiro de Espeleologia, sob o grande pórtico da Gruta Casa de Pedra.
Estimulados pelo sucesso de Le Bret, outros dois franceses se destacaram no cenário espeleológico paulista em fins dos anos 60, Pierre Martin e Guy Collet. Pierre Martin realizou diversos trabalhos de mapeamento, como na Caverna de Santana e mais tarde seria um dos principais incentivadores do moderno cadastro de cavernas do Brasil.
Depois do primeiro congresso na Gruta Casa de Pedra, a SEE organizou mais três congressos brasileiros de espeleologia em Ouro Preto. Esse movimento culminou em 1969, durante o 4o Congresso Brasileiro de Espeleologia em Ouro Preto, com a criação da SBE - Sociedade Brasileira de Espeleologia, visando congregar pessoas e grupos existentes e fomentar o desenvolvimento da espeleologia nacional.
3 -A Explosão de Novos Grupos Espeleológicos e as Grandes Explorações.
Os anos 70 e 80 se destacam pelo surgimento de vários grupos espeleológicos, como Centro Excursionista Universitário (CEU), Bagrus, Opiliões, Espeleogrupo de Rio Claro (EGRIC), Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GPME) no Estado de São Paulo; Núcleo de Atividades Espeleológicas (NAE), Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas (GBPE), Guano em Minas Gerais; Espeleogrupo de Brasília (EGB) e Grupo Espeleológico da Geologia - UnB em Brasília; Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná (GEEP-Açungui) no Paraná; Grupo Espeleológico Paraense (GEP), Grupo de Explorações Espeleológicas do Ceará (GEECE), Centro de Espeleologia do Rio Grande do Norte, além de inúmeros outros.
Os anos 70 ficaram marcados pelo início de uma profunda transformação no cenário das grandes cavernas do Brasil, com memoráveis descobertas e explorações em regiões antes pouco conhecidas, principalmente nos Estados de Goiás e Bahia. As fantásticas cavernas da região de São Domingos foram alvo de várias incursões. A primeira expedição (e a única a conseguir mapear uma das grandes cavernas em sua totalidade) foi realizada pela SEE em 1970. Foram explorados e mapeados cerca de 4.800 m da Lapa de Terra Ronca. Posteriormente as outras grandes cavernas da área foram “adotadas” por grupos de São Paulo, como Opiliões, Bagrus e o CEU. O mapeamento da Lapa de São Mateus III pelo CEU em 1979 representou, na época, a maior caverna brasileira, com pouco mais de 10 km de galerias. Algumas das grandes cavernas de São Domingos, como São Vicente e Bezerra, só viriam a ter sua exploração e mapeamento concluídos cerca de 20 anos depois.
A partir dos anos 80 as grandes descobertas foram efetuadas no Estado da Bahia. Em 1986 foi explorada, pelo Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, a Gruta do Padre que, no ano seguinte, em um mapeamento em conjunto com o Espeleogrupo de Monte Sião e Espeleo Clube de Avaré, atingiria 16.200 m de extensão, a maior caverna brasileira. Em 1987 se iniciou, também pelo Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, o mapeamento da Toca da Boa Vista que, após mais de 20 expedições, atingiu, em janeiro de 2004, 105 km de galerias topografadas. Trata-se da maior caverna do Hemisfério Sul e uma das mais extensas e complexas grutas do mundo. Sua vizinha, a Toca da Barriguda, ultrapassa os 30 km de galerias, a segunda maior caverna brasileira conhecida. Outras áreas que revelaram importantes descobertas foram a Chapada Diamantina e a Serra do Ramalho, ambas na Bahia.
Descobertas continuaram a ocorrer durante os anos 90. Em especial, a evolução de áreas como espeleomergulho e espeleoresgate foram marcantes, ambas contando com a contribuição importante de grupos espeleológicos estrangeiros. Vale destacar a exploração sistemática de cavernas alagadas, principalmente na região de Bonito (MS). Atualmente alguns dos mergulhos mais profundos e longos de todo o mundo estão sendo realizados no Brasil. A descoberta das profundas cavidades quartzíticas no topo do Pico do Inficionado (MG) representou um novo marco para a espeleologia vertical brasileira, com a exploração das três cavernas mais profundas do país, incluindo a mais longa e mais profunda caverna em quartzito do mundo, a Gruta do Centenário com -481 m de profundidade e 3800 m de extensão.
4 - O Estabelecimento de uma Ciência Espeleológica Brasileira e a Proteção ao Patrimônio Espeleológico
A partir de fins dos anos 70 iniciou-se um lento processo de capacitação acadêmica de pesquisadores interessados no estudo científico de nossas cavernas. Teses de mestrado e doutorado versando sobre espeleologia foram defendidas em número sempre crescente, culminando com a formação de grupos de pesquisa. O núcleo de tal transformação pode ser situado nos Institutos de Biociências e Geociências da Universidade de São Paulo, que hoje contabilizam dezenas de trabalhos científicos publicados em revistas de renome internacional, além de vários mestrados e doutorados. Outros núcleos de pesquisa estão lentamente se estabelecendo em universidades como a UFMG e UnB. A ciência espeleológica brasileira hoje, apesar de pequena, possui nível internacional e os cientistas espeleólogos exercem influência cada vez mais marcante nos destinos do patrimônio espeleológico brasileiro.
A proteção ao patrimônio espeleológico foi outra área de suma importância que vivenciou notáveis avanços a partir dos anos 80. Espeleólogos se envolveram ativamente na discussão de uma nova legislação que contemplasse a preservação das cavernas e seu entorno, tanto a nível nacional quanto estadual. Diversas unidades de conservação foram criadas, protegendo sítios espeleológicos e deu-se início a elaboração de planos de manejo para cavernas e áreas cársticas. Estes esforços culminaram com a fundação, em 1997, do CECAV - Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas, unidade do IBAMA encarregada de fiscalizar e fomentar atividades ligadas às cavernas.
5 - Cenário Atual
A espeleologia brasileira chega ao século 21 com um grande potencial de crescimento, apesar de sérios problemas estruturais, muitos deles recorrentes há vários anos. Hoje nossa espeleologia, tanto em âmbito esportivo quanto técnico-científico, situa-se no mesmo nível de países mais desenvolvidos, muito embora seja praticada em uma escala menor. O número de praticantes ativos encontra-se estabilizado há muito tempo, representando provavelmente não mais do que algumas centenas de indivíduos. Os grupos espeleológicos, tão atuantes nas décadas de 70 e 80 hoje estão enfraquecidos, com um número relativamente pequeno explorando novas áreas.
Por outro lado, nunca a espeleologia e as cavernas estiveram tão populares, levando dezenas de milhares de turistas mensalmente a visitar cavernas em todo o território nacional e sendo corriqueiramente veiculada em televisão e na imprensa escrita.
A Sociedade Brasileira de Espeleologia, que supostamente deveria ser o núcleo integrador dos interessados em cavernas no Brasil, infelizmente não cumpriu o seu papel. Com uma estrutura e estatutos obsoletos, e controlada por grupos personalistas com pouca experiência e afinidade com atividades de campo, afastou-se gradualmente dos problemas do dia-a-dia de nossa espeleologia. Isto ocasionou, ao longo dos anos, o desligamento de importante parcela da espeleologia brasileira, incluindo quase toda a comunidade científica. Após uma série de crises nos anos 80 e 90, finalmente em 2003 resolveu-se buscar uma alternativa definitiva, com a fundação da Redespeleo Brasil, uma nova organização, mais horizontalizada e atuante, que possa efetivamente representar os interesses dos praticantes da espeleologia brasileira. A Redespeleo Brasil já conta com a participação de muitos dos mais atuantes grupos e indivíduos do país e tem crescido rapidamente, ocupando um espaço há muito em aberto em nossa espeleologia.
Fonte: Rede Espeleo
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Para conhecer mais sobre o ESPELEOTURISMO: Acesse a Revista "Turismo e Paisagens Cársticas" da SBE:
1 - https://www.sbe.com.br/ptpc/tpc_v3_n1.pdf
2 - https://www.sbe.com.br/ptpc/ptpc_v2_n1.pdf
3 - https://www.sbe.com.br/ptpc/tpc_v3_n2.pdf
4 - https://www.sbe.com.br/ptpc/ptpc_v2_n2.pdf
5 - https://www.sbe.com.br/ptpc/ptpc_v1_n1.pdf
6 - https://www.sbe.com.br/ptpc/ptpc_v1_n2.pdf
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EDUCAÇÃO ESPELEOAMBIENTAL :
Acesse o link abaixo e veja o Almanaque "Turma do Dinho".
https://www4.icmbio.gov.br/cecav//divs/almanaque%20da%20turma%20do%20dinho.pdf
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SIGEP - Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos
https://sigep.cprm.gov.br/index.html
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28/07/2011 - 13h53 / Atualizada 28/07/2011 - 14h23
31º CBE lança Revista Espeleo-Tema
A edição especial de lançamento no 31º Congresso Brasileiro de Espeleologia, sediado pela UEPG, destaca artigos sobre cavernas da região dos Campos Gerais
por Marilia Woiciechowski
O lançamento da Revista Espeleo-Tema marcou a programação de domingo (24/8), que encerrou a trigésima primeira edição do Congresso Brasileiro de Espeleologia (31° CBE), reunindo cerca de 200 pesquisadores e estudantes de diversas áreas, representando sete países. A revista da Sociedade Brasileira de Espeleologia – SBE – Campinas - SP (www.cavernas.org.br/espeleo-tema.asp) teve lançamento durante a Assembléia Geral do congresso que se desenvolveu pela segunda vez no Paraná, depois de 20 anos da realização da primeira edição no estado, em Curitiba. Na edição especial da Revista Espeleo-Tema estão três artigos sobre a região dos Campos Gerais, incluindo destaque da capa. A Espeleo-Tema – Revista Brasileira dedicada ao estudo de cavernas e carste registra o volume 22, número 1, ano 2011.
Com o início da programação em 21 de julho, o 31º CBE desenvolveu seu programa de palestras no Auditório do Observatório Astronômico da UEPG, no Campus de Uvaranas. O congresso teve realização da SBE (Sociedade Brasileira de Espeleologia), organização do Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas (GUPE) e apoio da UEPG e da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Destacou como tema “Espeleodiversidade: ensino e conservação”, abrindo espaços de aproximação para grupos, pesquisadores e interessados pela ciência espeleológica, proporcionado o debate técnico-científico e de interação da comunidade espeleológica brasileira. O GUPE comemorou 26 anos de trabalhos, ao longo da programação do congresso, que oportunizou expedições a cavernas da região dos Campos Gerais.
A edição especial de lançamento no 31º CBE destaca o tema Carste e Ocorrências Não Cársticas em Rochas Não Carbonáticas. Entre os dez artigos da revista estão Carste em rochas não-carbonáticas: o exemplo dos arenitos da formação Furnas, Campos Gerais do Paraná/Brasil e as implicações para a região (Mário Sérgio de Melo, Gilson Burigo Guimarães, Henrique Simão Pontes, Laís Luana Massuqueto, Isabelle Pigurim, Hugo Queiroz Bagatim e Paulo César Fonseca Giannini), Geossítio do Sumidouro do Rio Quebra-Perna (Ponta Grossa/PR, Brasil): relevante exemplo de sistema cárstico nos arenitos da Formação Furnas (Laís Luana Massuqueto, Gilson Burigo Guimarães e Henrique Simão Pontes) e Caverna da Chaminé, Ponta Grossa, PR, Brasil: potencial espeleológico, recursos hídricos subterrâneos e riscos geoambientais (Henrique Simão Pontes & Mário Sérgio de Melo).
Edição Especial
Os professores doutores da UEPG Antonio Liccardo, Gilson Burigo Guimarães e Mário Sérgio de Melo integram o quadro de revisores da Revista Espeleo-Tema. Ao apresentar os artigos que constam da edição especial da revista Espeleo-Tema, Rubens Hardt, Mário Sérgio de Melo e Joël Rode, editores convidados, destacam que a Sociedade Brasileira de Espeleologia brinda a comunidade científica brasileira com uma visão atual e diversificada sobre a espeleogênese não carbonática ou não cárstica na concepção original do termo. Além das implicações associadas (biologia, arqueologia, geoconservação, recursos hídricos, riscos geoambientais), relacionados com essa mudança de paradigma.
Os editores registram que, nos últimos anos, a comunidade científica vem produzindo trabalhos cada vez mais detalhados sobre a ocorrência da espeleogênese em rocha não carbonáticas. O que leva a questionar conceitos antigos que definiam o carste somente em rochas de alta solutibilidade, rumo a um conceito novo, baseado em processos e organização sistêmica, em que o carste é resultado de processos diversos. Entre os quais a dissolução que exerce papel importante, e de uma organização, onde as drenagens subterâneas em condutos são a conexão principal do sistema.
No editorial, observam que o Brasil apresenta uma enorme variedade de afloramentos rochosos, carbonáticos ou não, onde o carste pode se manifestar, tornando-se um importante foco de pesquisas nesse campo. Também ressaltam que esse campo tem atraído a atenção de pesquisadores estrangeiros desde a década de 1980. Outro ponto que os autores salientam refere-se à atenção que a comunidade científica brasileira dedica à exploração, estudo e conservação de sítios espeleológicos em rochas não carbonáticas, sejam estes considerados de origem cárstica ou não. Para os editores, o conhecimento do comportamento cárstico de unidades antes consideradas como rochas pouco solúveis tem importância crescente para a gestão de recursos hídricos e para o enfrentamento de riscos geoambientais como subsidências e abatimentos.
Outros Artigos
A revista Espeleo-Tema da SBE traz, ainda, os artigos Caverna do Rio Fria (SP-40) revisitada 100 anos depois de Krone: história e geologia de uma caverna formada pelo crescimento de tufa (William Sallun Filho, Luis Henrique Sapiensa Almeida, Bruna Ferri Torresi, Fábio Rodrigues Nobre Gouveia & Ana Laura Person), Novo sítio espeleológico em sistemas ferruginosos, no vale do Rio Peixe Bravo, norte de Minas Gerais, Brasil (Felipe Fonseca do Carmo, Flávio Fonseca do Carmo, André Augusto Rodrigues Salgado & Claudia Maria Jacobi), Unidade espeleológica Carajás: delimitação dos enfoques regional e local, conforme metodologia da IN-02/2009 MMA (Raul Fontes Valentim & João Paulo R. Olivito), Caracterização da unidade espelológica e das unidades geomorfológicas da região do Quadrilátero Ferrífero – MG (Osvaldo A. Belo de Oliveira, João Paulo R. Olivito & Daniela Rodrigues-Silva), Cavernas em arenito no planalto residual do Tocantins (Fernando Morais & Saulo da Rocha), Karstic features generated from large palaeovertebrate tunnels in southern Brazil(Heinrich Theodor Frank, Francisco Sekiguchi de Carvalho Buchmann, Leonardo Gonçalves de Lima, Felipe Caron, Renato Pereira Lopes & Milene Fornari) e Comunidades de invertebrados terrestres de três cavernas quartzíticas no Vale do Mandembe, Luminárias, MG (Marconi Souza Silva, José Carlos Nicolau & Rodrigo Lopes Ferreira).
Artigos da Região
Carste em Rochas Não-Carbonáticas: o exemplo dos Arenitos da Formação Furnas, Campos Gerais do Paraná/Brasil e as implicações para a região.
Mário Sérgio de Melo(1), Gilson Burigo Guimarães (1,2), Henrique Simão Pontes (2, 4), Laís Luana Massuqueto(2,3), Isabelle Pigurim(4), Hugo Queiroz Bagatim(2,4) & Paulo César Fonseca Giannini (5)
(1) Universidade Estadual de Ponta Grossa - UEPG, Ponta Grossa-PR; (2)Grupo Universitário de Pesquisas Espeleológicas - GUPE, Ponta Grossa-PR.; (3) Mestranda em Geografia da UEPG, Ponta Grossa-PR; (4) Egressos do Curso de Bacharelado em Geografia da UEPG, Ponta Grossa-PR.; (5) Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo – IGc-USP, São Paulo, SP.
Resumo - Os arenitos da Formação Furnas (Siluriano-Devoniano da Bacia Sedimentar do Paraná) aflorantes na região dos Campos Gerais do Paraná apresentam típicas feições de dissolução: furnas (dolinas), depressões úmidas e secas, cavernas, sumidouros e ressurgências, relevos ruiniformes, dutos, alvéolos, bacias e cúpulas de dissolução. Estas feições permitem identificar a existência de um sistema cárstico desenvolvido em rochas não-carbonáticas. Além de características texturais e mineralógicas do arenito, outros fatores favorecem os processos de dissolução e erosão subterrânea, tais como o forte gradiente hidráulico existente na área de exposição das rochas, situadas no reverso da Escarpa Devoniana, e importantes estruturas rúpteis, relacionadas com reativações de estruturas do embasamento e com a atividade mesozoica do Arco de Ponta Grossa. O relevo cárstico da Formação Furnas tem importantes implicações: enriquece o patrimônio natural e arqueológico e fortalece a possibilidade de iniciativas para a geoconservação e a educação para a sustentabilidade; controla o comportamento do Aquífero Furnas, muito utilizado principalmente em Ponta Grossa e Carambeí, e coloca a necessidade de medidas para sua preservação; adverte para a possibilidade de fenômenos típicos de relevos cársticos (subsidências e colapsos do terreno, alteração de cursos d’água), demandando programas de monitoramento preventivo. Estas características da Formação Furnas impõem que ela seja adequadamente considerada na legislação e políticas públicas referentes ao uso da terra nos municípios da região.
Geossítio do Sumidouro do Rio Quebra-Perna (Ponta Grossa/PR. Brasil): relevante exemplo de sistema cárstico nos arenitos da formação furnas
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Laís Luana Massuqueto, Gilson Burigo Guimarães, Henrique Simão PontesResumo - O Geossítio do Sumidouro do Rio Quebra-Perna localiza-se a, aproximadamente, 30 quilômetros a sudeste do centro urbano do município de Ponta Grossa (PR), sobre os arenitos da Formação Furnas(Siluriano/Devoniano). O local deve sua gênese a três fatores principais: dissolução da rocha através da ação da água; características intrínsecas à rocha, tais como a natureza e quantidade das estruturas sedimentares e a composição dos grãos e do cimento; e processos tectônicos ligados a um expressivo conjunto de falhas de direção NE-SW, relacionado à reativação estrutural durante a evolução do Arco de Ponta Grossa. O geossítio é um dos melhores exemplos de relevo cárstico em rochas não carbonáticas na região dos Campos Gerais do Paraná, fato este comprovado por seus dutos, cúpulas e bacias de dissolução, relevo ruiniforme, pequenos espeleotemas, paleoleitos e drenagem subterrânea ativa, todos indicativos de significativa dissolução dos arenitos. A criação de leis para o gerenciamento do uso e ocupação das terras sobre o relevo da Formação Furnas e para o disciplinamento do aproveitamento dos mananciais subterrâneos deve ser prioridade para os órgãos competentes, visando à conservação deste patrimônio natural.
Caverna da Chaminé, Ponta Grossa, PR, Brasil: potencial espeleológico, recursos hídricos subterrâneos e riscos geoambientais
Henrique Simão Pontes. Mário Sérgio de Melo
Resumo - A Caverna da Chaminé é uma notável feição do relevo da Formação Furnas, situada no Canyon do Rio São Jorge, na porção centro-norte do Município de Ponta Grossa. Considerada, atualmente, uma das maiores cavidades areníticas do sul do Brasil, apresentando 307 metros de desenvolvimento linear, tem sua gênese relacionada a estruturas tectônicas ligadas ao arqueamento crustal regional, denominado Arco de Ponta Grossa, e a fenômenos intempéricos subsequentes. A cavidade apresenta elevado número de pequenos espeleotemas (até cerca de 10 cm) com formatos variados, indicando que, a par do controle estrutural, ocorre significativa dissolução da rocha. Além dos componentes abióticos a caverna abriga expressiva fauna, que também participa da erosão biológica do arenito. Os pequenos filetes de água que ocorrem em seu interior, alguns perenes, alimentados por nascentes que escoam para dentro da caverna, outros temporários, formados nos períodos de elevados índices pluviométricos, controlam diretamente o microclima da cavidade. A Caverna da Chaminé é um exemplo da diversidade abiótica e biótica presente nas cavidades subterrâneas da região. Estudos espeleológicos desenvolvidos nestes ambientes deverão apoiar alternativas sustentáveis de uso visando a conservação do patrimônio espeleológico regional, a proteção de mananciais subterrâneos e a prevenção de fenômenos geológicos de risco.
ESPELEO-TEMA - Editor Chefe MSc. Heros Augusto Santos Lobo Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – IGCE/UNESP; Editor Assistente Esp. Marcelo Augusto Rasteiro Sociedade Brasileira de Espeleologia – SBE; Conselho Editorial Dr. William Sallun Filho Instituto Geológico do Estado de São Paulo – IG/SMASP, Dra. Maria Elina Bichuette Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR; Dr. Luiz Eduardo Panisset Travassos - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/Minas.
Sociedade Brasileira de Espeleologia - Caixa Postal 7031 – Parque Taquaral, CEP: 13076-970 – Campinas SP – Brasil. Contatos: +55 (19) 3296-5421 - espeleo-tema@cavernas.org.br
Brasil poderá ter o segundo geoparque das Américas
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Geoparque de Araripe foi criado em 2006, no Ceará/Foto: Bonito Pantanal
O governo do Rio de Janeiro vai pleitear junto a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) a criação do Geoparque Costões e Lagunas, que abrangerá 15 municípios do litoral fluminense, de Maricá, na região metropolitana, até São João da Barra, no norte fluminense.O projeto, se aprovado, dará ao país o segundo geoparque das Américas e o 78º do mundo. O Geoparque de Araripe foi criado em 2006, no Ceará. Os estados de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul também já apresentaram propostas e pleiteiam o selo, que garante reconhecimento mundial, por meio de uma rede global, estimulando o turismo científico e cultural.O projeto será apresentado à Unesco em setembro, e a chancela, se concedida, vai ser feita em um prazo de seis meses a um ano, como explicou à Agência Brasil a diretora de Mineração e Meio Ambiente do Departamento de Recursos Minerais (DRM) do estado, Débora Toci.“O fundamental da iniciativa na Unesco é a demonstração de que há toda uma preocupação ambiental, mas inserida também na própria população de que preservar os pontos de interesse, sejam geológicos ou históricos, é bom para ela mesma. Desde a importância da biodiversidade que a região tem, passando pela relevância de sua geologia, arqueologia até a relevância histórica”, destacou Toci.Segundo informações do governo do estado, a sede do geoparque ficará na Fazenda Campos Novos, em Cabo Frio, na Região dos Lagos, onde também está prevista a construção de um museu para reunir objetos e documentos que relatem a história e a relevância científica dos 104 sítios já mapeados.A Unesco define um geoparque como "um território de limites bem definidos com uma área suficientemente grande para servir de apoio ao desenvolvimento socioeconômico local". Deve abranger um determinado número de sítios geológicos de relevo ou um mosaico de entidades geológicas de especial importância científica, raridade e beleza, que seja representativa de uma região e da sua história geológica, eventos e processos. Poderá possuir não só significado geológico, mas também ao nível da ecologia, arqueologia, história e cultura.Com informações do EcoD.
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Comportamento
Homens das cavernas eram melhores pais
Para psicóloga, técnicas modernas prejudicam bebês e crianças
Crianças brincam ao ar livre: cena cada vez mais rara
Pouco calor humano, quase nenhuma exploração do meio ambiente e cada vez menos interação social. Estes são três pecados que pais modernos estão cometendo ao educar as crianças do século 21, de acordo com a psicóloga Darcia Narvaez. A professora da Universidade de Notre Dame (em Indiana, EUA) liderou três estudos que chegaram à conclusão de que os pais de hoje estão criando uma geração inteira de pessoas disfuncionais por adotarem técnicas "modernas", como deixar bebês chorando até eles se acalmarem ou obrigar as crianças a ficarem sentadas e quietas por longos períodos.
Em entrevista ao jornal britânico Daily Mail, Narvaez afirma que membros de tribos antigas eram muito melhores pais e mães. No passado, por exemplo, uma criança era criada por toda a comunidade e não apenas por seus progenitores. Além de maior interação social com os outros membros da tribo e familiares, os bebês mantinham contato físico com pessoas o tempo todo. Havia sempre alguém para carregá-los, fazer carinho e confortá-los quando choravam. Hoje, é comum os pais as deixarem sentadas e sozinhas por longos períodos em cadeirinhas e carrinhos de bebê ou ao cuidado de babás e professores.
A técnica do "choro controlado", em que as crianças são deixadas derramando lágrimas por um certo período de tempo também é condenada por Narvaez: "Cuidar das crianças de forma acalentadora, deixa o cérebro infantil tranquilo durante o tempo em que elas estão formando sua personalidade e o tipo de respostas que darão ao mundo", afirma a pesquisadora.
Para ela, outra coisa que mudou foram os tipos de brincadeiras. Jogos e atividades em grupo, em que nossos ancestrais exploravam os arredores e o meio ambiente, são cada vez mais incomuns. Brincar ao ar livre deu espaço a videogames, computadores e atividades solitárias. Estudos mostram que crianças que não passam tempo o suficiente brincando são mais propensas a desenvolver hiperatividade e problemas mentais, aponta a pesquisadora.
Tudo isso está levando a humanidade a uma verdadeira epidemia, de acordo com a psicóloga. "Há uma epidemia de ansiedade entre os jovens", diz. "Crianças que não são nutridas emocionalmente por seus pais no começo de suas vidas tendem a ser mais egocêntricas. Elas não possuem os mesmos sentimentos de compaixão que aquelas educadas por famílias carinhosas e que interagem com os pequenos".
Gruta da Lancinha, em Rio Branco do Sul, região metropolitana de Curitiba. A maioria das cavernas do Paraná fica nessa área
Legislação
70% das cavernas do Brasil estão ameaçadas
Após publicação de decreto que autoriza a devastação de formações, aumentou o número de pedidos para explorá-las
Publicado em 14/01/2009 | Viviane Favretto
A maioria das cavernas do Paraná está na mira das empresas de mineração. Depois que o governo federal publicou um decreto autorizando a destruição dessas formações, desde que obedecidos alguns critérios, empresas começaram a apresentar um grande volume de pedidos para explorá-las. Em todo o país existem cerca de 7.300 grutas identificadas e os ambientalistas calculam que 70% delas poderão ser destruídas com a nova lei.
O decreto, assinado em novembro de 2008 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, classifica as formações em quatro critérios de relevância: máximo, alto, médio e baixo. Somente as de máxima relevância deverão ser preservadas. De acordo com Darci Zakrzewski, espeleólogo do Grupo de Estudos Espeleológicos do Paraná – Açungui (GEEP-Açungui), antes disso todas as cavernas eram protegidas por lei.
As de alta relevância poderão ser destruídas desde que o empreendedor se comprometa a preservar duas similares. Para impactar as de média, o empreendedor deverá adotar medidas e financiar ações que contribuam para a conservação e o uso adequado do “patrimônio espeleológico brasileiro”. As de baixo poderão ser exploradas sem contrapartidas. Em todos os casos em que é possível a eliminação, as empresas devem ter autorização dos órgãos ambientais. A mudança é resultado de dois anos de pressão das empresas, que consideram as grutas “empecilhos” à expansão dos empreendimentos. Segundo Zakrzewski, após a publicação do decreto, aumentou o número de pedidos de laudos feitos pelas mineradoras para determinar a relevância da caverna e então solicitar sua destruição.
Segundo a Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), na Região Sul apenas o Paraná se destaca na identificação de cavernas. São 271 cadastradas na SBE. Zakrzewski afirma que 90% delas estão em municípios da região metropolitana de Curitiba. Segundo ele, todas estão relativamente bem preservadas.
Relevância
Zakrzewski diz que outro grande problema dessa nova legislação é a questão de quem vai determinar qual é a relevância de uma caverna. Ele explica que quem faz esse trabalho são técnicos contratados pelas empresas. “Alguns são espeleólogos e outros vêm de áreas diferentes e nem sempre têm condições de fazer uma avaliação correta.” De acordo com Zakrzewski, é comum que, nessas vistorias, seja levada em conta apenas a profundidade da caverna. Como no Paraná a maioria das formações não é muito extensa, as empresas teriam facilidade para obter a autorização para destruí-las. A relevância, completa o especialista, também depende da importância biológica, geológica e histórica de cada cavidade. O decreto presidencial deu prazo de 60 dias para que o Ministério do Meio Ambiente elabore a metodologia para a classificação do grau de relevância das cavernas.
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O que é espeleologia
Espeleologia é a ciência voltada para o estudo de cavernas. Esta ciência busca conhecer e estudar a formação geológica das cavernas, meio ambiente onde estão inseridas, formas de vida que a habitam, características, formas de preservação, etc. Esta ciência utiliza em seus estudos conhecimentos de outras áreas como, por exemplo, Geologia, Geografia, Biologia, Ecologia, entre outras. O profissional que atua nesta área é chamado de espeleólogo.
Cavernas no Brasil
O Brasil é um país rico na presença de cavernas. Já foram catalogadas cerca de 4 mil cavernas em território nacional. Os espeleólogos acreditam que existam aproximadamente 80 mil cavernas em nosso país. Isto é extremamente importante, pois além destas cavernas oferecerem muitas informações científicas, podem ser exploradas do ponto de vista turístico e cultural.
Cavernas: fonte de pesquisa pré-histórica
Vale dizer também que, muitas cavernas, foram habitadas no passado por homens pré-históricos. Logo, são importantes fontes de estudo desta época da história, pois podem ser analisadas do ponto de vista arqueológico.Estas cavernas possuem vestígios pré-históricos e, muitas delas, pinturas rupestres.
Principais cavernas brasileiras:
- Gruta do Centenário (Pico do Inficionado) em Minas Gerais: á a caverna mais profunda do Brasil com 481 metros de profundidade.
- Toca da Boa Vista (Campo Formoso) na Bahia: caverna mais extensa do Brasil com 92,1 km de extensão.
- Toca da Barriguda na Bahia com 26,7 km de extensão.
- Gruta do Maquiné (Cordisburgo) em Minas Gerais: é a mais visitada no Brasil.
- Gruta dos Ecos: localizada em Corumbá de Goiás-GO.
Curiosidade:
- A maior caverna do mundo em extensão é a Mammoth Cave, situada no estado de Kentucky (Estados Unidos). Ela possui 580 km de extensão.
- A maior parte das cavernas levaram milhões de anos para se formarem.
Indicação de livro sobre o tema:
- As grandes cavernas do Brasil, Augusto Auler, Ézio Rubbioli e Roberto Brandi, Belo Horizonte, Grupo Bambuí de Pesquisas Espeleológicas, 2001, 214 páginas.
A formação de estalactites e estalagmites
Alan Band/Fox Photos/Getty ImagesPlacas educativas nas cavernas Luray, na Virgínia, auxiliam na compreensão da diferença entre estalactites e estalagmites
Podemos remeter as palavras estalactite e estalagmite à palavra grega "stalassein", que significa "pingar". Ela se encaixa direitinho, pois descreve a forma como as duas são formadas na natureza. Embora pareçam naturais e um pouco assustadoras, as estalactites e estalagmites crescem simplesmente em decorrência da águaque passa sobre o material inorgânico e através dele.
As cavernas de calcário, onde a maior parte das estalactites e estalagmites é encontrada, são compostas principalmente de calcita, um mineral comum encontrado nas rochas sedimentares. As moléculas de calcita são constituídas de cálcio e íons carbonato e são chamadas de CaCO3, ou carbonato de cálcio. Quando a água da chuva cai sobre uma caverna e escorre pelas rochas, ela carrega o dióxido de carbono e os minerais do calcário. Se misturarmos água, dióxido de carbono e carbonato de cálcio, temos essa equação:
H20 + CO2 + CaCO3 = Ca (HCO3)2
Ca (HCO3)2 é conhecido como bicarbonato de cálcioe a água carrega a substância, basicamente calcita dissolvida, através das fendas do teto de uma caverna. Entretanto, uma vez que a água entra em contato com o ar dentro da caverna, parte do bicarbonato de cálcio se transforma em carbonato de cálcio e a calcita começa a se formar ao redor da fenda. À medida que a água continua pingando, o comprimento e a espessura da calcita aumentam, surgindo, finalmente, uma estalactite no teto. A formação das estalactites pode levar muito tempo - geralmente, crescem em torno de 6 mm e 25 mm por século.